quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

a crise da arte

pintor brodosquiano Cândido Portinari certa vez anunciou o fim da pintura. Foi uma declaração surpreendente que causou espanto:
"a pintura vai acabar".
Nos dias de hoje uma declaração dessa não espanta mais ninguém. A pintura não acabou, mas está em crise.
Na verdade, em alguns momentos da história ela chegou as vias de fato com sua existência. A Idade Média foi uma treva para arte. Para tudo. Os pintores só podiam retratar santos. Essa prática atrasou a chegada do impressionismo em pelo menos 200 anos (Velasquez e Rembrant foram os primeiros a ensaiar o impressionismo). A Mona Lisa ficou escondida por quase 2 séculos por ser um retrato de uma madona na pose das santas. O período da reforma religiosa foi ainda pior para a arte, se a igreja católica obrigava o monotema, os protestantes proibiam a própria pintura.
Acredito que os tempos contemporâneos ameaçam a arte. O capitalismo descobriu que não precisa da arte, precisa da ante-arte, da barbárie, da selvageria. "...assim se ganha mais dinheiro"(cazuza).
A pintura navega nesse mar que um dia se renderá a calmaria. A exemplo da história, a pintura supera suas tormentas pra ser capaz de iluminar a todos novamente.
Nunca vai acabar. O homem pinta mesmo antes de falar. Pintura é a representação do que ele vê, ou sente, ou deseja, a simplificação do que ele pode fazer, exercício de habilidade manual. É crônica, expressão, documento histórico, arqueologia ou simplesmente lazer. É tudo.
O momento é de crise não somente na pintura mas em toda a arte. Literatura, música, poesia. A pintura sofre primeiro por que é a forma mais barata e menos erudita de fazer arte.
Para engessar a arte o capitalismo usa suas ferramentas ideológicas. Fomenta uma sociedade de consumo , o individualismo que beira o monólogo, a cegueira, a loucura. Todos os automóveis são brancos, pretos ou prata. Convenções que todos participam sem saber.
O pilar disso tudo, a ideologia burguesa, que odeia arte, essa que é vítima do conceito, da ciência, da manufatura do lixo em lixo. Um artista não se faz somente pelo cheiro do seu perfume.
A arte e a pintura em especial, está pixada pela tinta cega da contemporaneidade descolorida. Esta exposta a uma velhice que quer ser nova. A um laboratório de confusões capaz de degenerar a todos. Vans guardas que duram o tempo de vida de uma mosca. Um mundo onde tudo é façanha e a história da arte pode ser jogado no lixo como um resto de hot-dog. Esse "mundo contemporâneo" se resume a uma palavra de ordem. A uma idéia de pureza e absolutismo de caprichos. Tudo é permitido em nome da arte, inclusive matar.

Bienais do espetáculo. Sacos de metralhas, uma escultura de fumaça e revoluções de horas marcadas. Nem conceitos nem arte, expressão ou histeria? Tudo sobre controle. E no caminho da fadiga, ruína.
enfim, tudo muito pequeno-burguês.

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