segunda-feira, 13 de julho de 2009

a cachoeira da noiva


Foi depois do primeiro grito que a menina Lumiar pulou para a segurança do colo materno e tirou seus pés da água.

-Você está assustando a menina. Disse Sandrinha em tom de cesura.
-foi mal. Respondi.

-uma piaba acaba de morder, quer me comer ainda vivo. Lá vai ela lá ô. É aquela colorida ali. Apontei e tornei coletivo meu infortúnio.

Depois de Pium, distrito de Nísia Floresta, existe uma cachoeira que aflora somente nos meses de chuva. Um lugar isolado. Poucas casas dividem a geografia com terrenos baldios e casas de gringos. O lugar é tão remoto que tem naturezas sem cercas. Não existe também poluição nem violência. Como numa máquina do tempo, os nativos dormem tranquilos. Suas ruas não tem nome. A água e a luz não tem preço.

O isolamento protege uma natureza exuberante. Cada curva de rio, cada sapinho, cada folha seca compõe um quebra cabeça puro. Uma composição. Uma sinfonia. Música para olhos e sentidos. Lugar de muitos caprichos, muita água e poucas garrafas petis. Suas águas, afloradas ou subterrãneas, potáveis, quase nunca banham o corpo de um nitrato qualquer.

O mais impressionante capricho da natureza no lugar é a Cachoeira da Noiva. Sua queda dágua parece um véu de noiva. Seu barulho, uma festa. Suas águas quentes convidam ao banho. Um cenário que é um luxo, convite a contemplação.

Nesta festa, cachoeira e rio, fui mordido por uma piaba. E é da natureza da piaba morder pra saber. Todos ali sabiam disso, inclusive a menina Lumiar.

Quando soube que o faniquito fora causado por uma piabinha, A menina Lumiar perdeu o medo, pôs os pés na água e voltou a nadar. O que ninguém sabia, nem seu pai Zé Carlos, nem sua Mãe Cristiane, era que a menina Lumiar falava o idioma dos peixes.

-Ela me disse que você só pinta passarinhos, pinte peixinhos que ela para de morder. Traduziu a menina Lumiar.
Logo, em alto e bom som, o idioma piabês foi intendido por todos.

serrão

Nenhum comentário: