quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Natalvesmaia, agora mi cala também.

Natal é uma cidade de fidalgos, isso nem todo mundo sabe. Em Natal o talento é sempre substituído pelo pedigree familiar. Se você for descendente da família Plutão, Marte, ou Jarbas, pode ficar tranquilo. Sua agência de publicidade será próspera, seu escritório de advocacia competente. Sua casa de praia sempre estará protegida de assaltos e a blitz de Pium nem vai olhar na sua cara. Natalvesmaia, agora mi cala também. A cidade não gosta de ninguém, também não é amiga de ninguém. Dizem que é por causa do provincianismo, dos valores medievais do interior. Por exemplo: Niemeyer em Natal não é nada. Casas de vinhos raros fecham suas portas antes do primeiro ano, cadê nossa elite? Outro dia uma tradicional confraria de gaúchos desapareceu no meio de um açude artificial. E os condomínios dos gringos. Que engrandece as praias, ecológicos, reivindicadores de civilização na praieira. Agora fechados, a venda, sale.

Burler Marx, uma lenda urbana natalense?

Tudo que é bom, dura pouco, já dizia o dito popular. Em Natal, esse pouco é breve. E ainda tem quem diga que é uma cidade que adora o que vem de fora.

Círculos de afinidades, igrejinhas, cantões, são os hits que conduzem a ópera do horror natalense. Cidade que cresce pra cima. Coletivos de carros novos transformam suas ruas em cinza, preto e branco. Mosaico de latas monocolor, bicolor, tricolor, e só. O sentido coletivo do natalense é comprar pão na esquina, de automóvel, é claro. Só em Natal as padarias não vendem cervejas.

Cascudo viu uma cidade já grande, mas embriagada de vícios provincianos e disse: “Em Natal ninguém se dá bem e nem mal”. Desculpe mestre, os fatos são outros. Em Natal os políticos se dão muito bem, e já fazem até sucessores hereditários, velha capitania que deu certo, apesar da história dizer o contrário. Aqui pelo jeito a monarquia dá certo, sim.

Tem coisas que só acontecem em Natal: Lagoas de captação em geologia dunar. Essa é demais, não é nem chamar de idiota, é bater na cara. Ao mesmo tempo em que murmura-se derrubar o Machadão, preserva-se a rua da Conceição. Cidade confusa. Natal, diz pra mim quem és tu, quimera! Uma pantera?

Socorro disco voador!!! Os postos Ipiranga estão cheios de gente, as livrarias estão fechando. A maionese vencida do sanduíche de frango, gelado, dormido, iguaria sem igual, antepasto nas madrugadas. Só os postos Ipiranga são felizes. Bom exemplo pra juventude é o yuppie tardio, anda limpinho, surdinho, e dirige uma Hillux.

O povo de Natal gosta tanto de carro, e de som no carro, que compra o bicho mesmo sem ter a jaula pra botar. Ai compra outro bicho, e outro. É quando chega pra gente e fala:

- Você pode-me emprestar sua jaula, é que meu filho veio pra casa hoje com o corsa da firma.

Já mandei chumbar o portão!

Isso é sério, o automóvel criou uma coisa chamada: imobilidade social. Nem a ditadura conseguiu essa tal imobilidade.

Os bebês já estão nascendo com pneus no lugar dos pés. Em vez de olhos, farol de milha. Os braços, retrovisores, e as mãozinhas, os piscas alerta. Tem vermelho e amarelo. Tomam muito líquidos pra se acostumar logo cedo com o álcool. E a papinha cremogema? É para não estranhar o óleo diesel.

Os rapazes há muito tempo passam gasolina no corpo. Até o poeta Helmut anda tomando banho de querosene (cadê ele hein?).

E Natalvesmaia, agora mi cala também. Caminha Natal, segue sua trilha para o fim. Vocação imposta, geografia do individualismo, território da esperteza. Riqueza visual, pobreza imaterial.

serrão

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